Complexo de piscicultura dedicado a reprodução e processamento de peixes nativos da Amazônia

Apesar do território brasileiro conter 12% da água superficial da Terra e possuir quase 7.400 km (4.600 milhas) de costa no oceano Atlântico, os dados de 2014 indicam que 70% do pescado consumido no país é importado. Além disto, a maior parte do peixe produzido no país, como a tilápia, são de espécies não originais a fauna brasileira.

A cadeia produtiva da piscicultura representa historicamente uma atividade relevante e tradicional no estado do Acre, onde está localizada a Peixes da Amazônia S.A.. Ao longo das últimas décadas várias iniciativas de apoio a estruturação desse setor foram desenvolvidas no estado tais como construção de tanques escavados nas propriedades da agricultura familiar, treinamento e disseminação de técnicas para diversas comunidades, associações e cooperativas.

Entretanto o pleno desenvolvimento dessa cadeia produtiva sempre esbarrava nos limites da comercialização e agregação de valor do peixe produzido. Desta forma, essa cadeia produtiva acabou se caracterizando como uma atividade sazonal cujo foco concentrava-se na produção de peixes de menor valor para serem comercializados em datas específicas e especialmente durante a Semana Santa sem agregação de valor. Isso limitava o pleno desenvolvimento desse setor e a renda do produtor, não proporcionava escala de produção e não garantia a qualidade do produto produzido.

Ficou claro que uma estrutura agroindustrial que servisse de âncora para essa cadeia produtiva era necessária para consolidar e dar relevância para essa atividade no estado.

A Peixes da Amazônia S.A. foi criada em 2011 com o objetivo de desenvolver e produzir peixes regionais amazônicos para consumo local e internacional. As três unidades de negócio incluem um centro de alevinagem para produzir 15 milhões de alevinos/ano, uma fábrica de rações com capacidade para 40.000 ton/ano e um frigorífico de processamento de pescado de 20.000 ton/ano. A empresa se distingue em três aspectos:

  • A composição societária da empresa é no formato de uma Parceria Público Privada Comunitária, e inclui investidores privados (fundo de private equity e empresários locais), a agência de desenvolvimento estadual e uma cooperativa regional de piscicultores. A cooperativa regional é formada por cooperativas singulares totalizando 2.500 famílias que operam com a engorda de peixes
  • Foco em pesquisa e desenvolvimento de novas espécies comerciais de pescado e de rações especializadas para peixe. Destacam-se o desenvolvimento de novas técnicas de reprodução de peixes amazônicos, como o pirarucu (peixe listado como espécie em risco de extinção) e o desenvolvimento de rações especiais para peixes carnívoros sob o conceito de nutrição de precisão. Estas rações resultam em desempenho zootécnico diferenciado, com melhores índices de conversão, otimização da utilização dos recursos, maior sustentabilidade e melhor rentabilidade para os produtores
  • Seus fornecedores potenciais incluem 3.000 parceiros de pequeno, médio e grande porte para os quais a empresa fornece alevinos e ração de alta qualidade, assistência técnica para produção, e garantia de compra de todo o pescado produzido

A estruturação do complexo agroindustrial da Peixes da Amazônia S.A. vem consolidando o setor no Acre desde que empresa iniciou suas operações em Abril de 2015. O custo dos alevinos e ração para peixes caíram até 30% em relação aos custos existentes anteriormente (quando eram comprados fora do estado do Acre), mesmo mantendo margens interessantes para a empresa.

A perspectiva é de um grande impacto em termos de geração de renda. A Cooperativa Central dos Piscicultores do Acre representa 2.500 famílias de agricultores familiares com potencial de serem integrados à cadeia produtiva da piscicultura. Estudos apontam para um potencial de geração de renda de R$ 11.000 por ano para produtores da menor escala de produção (1 ha de lâmina d’água).

Há a expectativa de que a cadeia produtiva da piscicultura, uma vez estruturada, contribua de forma significativa para a redução nas taxas de desmatamento do estado uma vez que a piscicultura é altamente concentrada em termos de ocupação de área, não exige novos desmatamentos e proporciona uma renda significativa, especialmente para a agricultura familiar que desincentiva a realização de novos desmatamentos para o desenvolvimento de outras atividades produtivas.